Duas ideias para começar o seu caminho
As possibilidades são infinitas, mas todas requerem atirar os dados para ver o resultado. Neste artigo vamos explorar duas ideias importantes para ajudar a começar o seu caminho académico ou profissional.
Ocasionalmente, sou abordado por pais preocupados com o futuro dos seus filhos. Pedem-me opinião sobre se o seu filho ou filha deve seguir esta ou aquela área, se é bom, se tem emprego. “Se dá ou não emprego interessa muito pouco”, é a minha resposta habitual. Normalmente esta resposta preocupa os pais e mães e alegra os filhos e filhas. Inscreva-se num curso porque essa área o fascina imenso, tenha isso emprego ou não. Inscreva-se porque naquela vez em que leu um pouco sobre o assunto, reparou que já eram três da manhã e era suposto ser uma leitura breve depois do jantar. A capacidade de imersão num só tópico por largas horas de cada vez é crucial para se produzir trabalho significativo que influenciará grandemente a sua felicidade. O trabalho que produzir e que poderá ser útil para si ou para a sociedade vem sobretudo desses momentos de foco. Conseguir focar-se e cortar todas as distracções de fora, será uma aptidão cada vez mais importante [1]. Por isso, aconselho a ter um grande interesse no tópico. Não se esqueça que será tanto mais difícil focar-se quanto menos lhe interessar o tópico, como é óbvio.
Por outro lado, existem aptidões transversais a qualquer área profissional, muito mais importantes do que o curso específico que se possa escolher – principalmente quando está agora a entrar na idade adulta. Obviamente, para cursos como medicina, engenharia ou direito é obrigatório que se faça o curso se quiser exercer essa profissão dentro da legalidade. No entanto, não entre no ensino superior apenas com o emprego como objectivo final. Sem um propósito mais forte que justifique a sua presença num curso universitário, vai tornar a jornada muito mais penosa.
Deverá esforçar-se em formar bons hábitos, procurar as actividades que o desafiem e que o façam crescer. Na procura por essas actividades mitológicas, vai errar muitas vezes. O pior disso, é que muitas das vezes nem vai aprender nada, só aprende à segunda ou terceira tentativa.
Talvez seja necessário saltar de área em área. “Escolher algo em vez de nada” [2]. Escolher algo, mesmo que implique saltar de vendedor numa loja de roupa para criador de galinhas, passando também por operário numa fábrica de parafusos. É melhor isto do que escolher a passividade. No entanto, saiba que é desejável que estas escolhas e estas mudanças tenham alguma estratégia e um porquê a suportá-las. Não tenha receio de errar na sua escolha, mas escolha algo deliberadamente – com um motivo por trás – e não apenas porque é o que lhe apetece naquele dia.

Começar
Escolha uma área para se envolver. Só precisa de escolher uma e não é preciso pensar excessivamente. Se a indecisão for grande entre duas opções que tenham um peso equivalente na sua consideração, atire uma moeda ao ar. Só saberá qual será a opção correta quando a tiver escolhido, por isso, não vale a pena ponderar demasiado sobre o assunto, especialmente quando é jovem, cheio de energia e com todos os erros por cometer pela frente.
A grande parte das pessoas ficam presas aqui quando estão a tentar dar rumo à sua vida. Congelam perante todas as opções e todos os medos e incertezas que poderão ser revelados. Pense, mas não demasiado. A passividade e o adiar do tomar uma decisão podem ser apenas receio da incerteza que uma decisão trará na sua vida. Grande parte dos receios do mundo actual resumem-se à preocupação sobre aquilo que os outros pensam de nós. O que é legítimo, dado que somos seres altamente sociais e bastante dependentes (biologicamente) da aprovação da comunidade. No entanto, se tomar consciência de que as pessoas não pensam tanto em si quanto imagina, e que está a perder uma oportunidade de vir a ter uma vida realizada, esse medo perde força.
Diria que, em grande parte, o problema de os jovens não saberem o que escolher, na altura da universidade, vem da falta de testarem múltiplas actividades diferentes. Muitos aproveitam as férias para ficar acordados até tarde para jogar computador ou ver filmes e séries. Mas um bom uso desses 3 meses de férias é inscrever-se num part-time ou usar a internet para explorar um hobbie ou um tópico que tenha despertado o interesse durante o ano lectivo. Vivemos em tempos dourados do acesso à informação. é cada vez mais fácil ter informação disponível para aprender na internet. Aproveite-a.

Focar
Quando já tiver passado algum tempo a experimentar, passando de tópico em tópico, e já tiver ganho algum feeling do que gosta ou que não gosta, está na altura de começar a focar-se. Investigue a área que escolheu com profundidade, fale com pessoas que já estejam dedicadas a ela e siga-as (atenção seguir é diferente de perseguir!). As redes sociais, tais como o Twitter, LinkedIn ou mesmo o YouTube, são ótimas fontes para seguir pessoas que se destaquem na área que gosta.
Toda esta jornada é dura. Vão existir dias menos bons. Dias em que vai achar que está só a perder tempo, o seu e o dos outros. Faz parte. Como se costuma dizer entre os matemáticos, a diferença entre alguém que é bom e alguém que é mau em matemática, é que quem é bom persiste apesar de não fazer ideia de como resolver o problema. É essencial estar confortável com o desconfortável. Este é um aspecto muito importante que tento sempre transmitir aos meus alunos. Esta característica de perseverança é fundamental em praticamente todas as áreas e todas as habilidades suficientemente difíceis para serem interessantes. Há que ter este à vontade para se ser ignorante no tópico. Quando está nesse patamar, de completa ignorância, e mesmo assim persiste é quando está a fazer progresso e está a melhorar mais uma dimensão em todas que compõem a sua personalidade.
Ideias a reter
Não fique paralisado com todas as opções que tem disponíveis. Neste momento, enquanto jovem, escolha uma e vá ajustando o seu caminho. Existem imensas oportunidades para o jovem dos dias de hoje num país desenvolvido. Além disso, nunca viveu numa altura em que o acesso à informação foi completamente banalizado. Hoje consegue aceder a conteúdo que estava reservado a algumas elites e em muito menor escala, mesmo há um par de décadas atrás. Aproveite o momento, o hoje para começar a explorar o que existe e a sentir aquilo que é capaz.
Atentamente,
André
Referências
[1] Cal Newport – “Deep Work”
[2] Jordan B. Peterson – “12 Rules for Life”
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