Como a Filosofia o ajuda a viver uma boa vida
O título deste artigo pode parecer estranho. Mas, se nunca pensou em usar os conhecimentos acumulados ao longo de milhares de anos por diversos filósofos, sobre como viver uma boa vida, está na altura o começar a fazer. Neste artigo falo-lhe das quatro ideias-chave da filosofia que me têm ajudado a viver uma vida melhor nos últimos anos
O primeiro contacto do leitor com a filosofia foi provavelmente durante o Secundário. Com sorte, conseguiu pelo menos tolerar essa disciplina. O habitual é sentir um aborrecimento tremendo. Se teve o típico professor de filosofia, foi forçado a decorar quantidades enormes de teorias e textos e opiniões, com muito pouco contexto e interligação, pressionado – mais uma vez – por um programa a cumprir. Toda essa informação, depois de decorada expeditamente para o teste, é despejada no mesmo. A memória, dedicada a essa parte da informação, fica liberta para o próximo teste assim que acaba o que tem à frente. São raros aqueles professores que, arriscando-se não cumprir o programa, entusiasmam os alunos e mostram um pouco do lado mais prático da filosofia.
Se nunca ninguém o levou para este framework, aproveite agora para se enquadrar neste modo de pensar diferente que o levará a viver uma boa vida, ou pelo menos, com significado.
Da origem da palavra, filosofia é o “amor ao saber”. Na minha experiência é a teoria do querer saber. Quando se quer saber, levantam-se questões. Ao levantarem-se questões sobre quase tudo, começa-se, inclusivamente, a questionar a vida que se leva e as ações que se tomam. Querer esclarecer todas essas dúvidas é o primeiro passo para concretizar o potencial que cada um tem de levar uma vida melhor.

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1. Questionar o mais possível
O querer saber é transversal a diversas áreas. O tipo de raciocínio é análogo ao que é necessário noutras áreas do saber. É ditada pelo rigor – por se querer afastar de vícios de raciocínio ou por argumentos falaciosos – e chegar à verdadeira essência das coisas. Todas as teorias que compõem o pensamento filosófico têm como objetivo ajudá-lo a navegar no mundo e a obter algumas respostas, na tentativa de saciar um pouco a sua curiosidade inata.
A vida sem ser examinada não merece ser vivida.
Sócrates
As palavras não foram exatamente estas, mas a sua essência é esta. Já há mais de 2000 anos, Sócrates afirmava – em dias da sua sentença de morte por corromper a juventude ateniense com as suas ideias – que uma vida digna de ser vivida tinha de ser levada com análise e critério.
Este estilo de vida não implica uma de constante paranóia sobre tudo o que sucede à volta. O importante é conseguir questionar os aspetos importantes que afetam diretamente a sua vida. Não acreditar em tudo o que vê e ouve ingenuamente, sem criticar nem mesmo brevemente.
2. Formar bons hábitos

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A filosofia pode e deve ajudar o leitor a levar uma vida com mais significado, mais autêntica. A viver a “boa vida” e atingir um estado de Eudaimonia [1], como afirmava Aristóteles. Cada pessoa tinha o dever de atingir esse estado de prosperidade, de florescimento humano. Era para ele que todo o ser humano deveria caminhar. Desengane-se se acha que a boa vida é apenas a típica boémia. Consistente apenas em prazeres mundanos como o esbanjar dinheiro, comer comida ou doces em excesso, estar permanentemente sob efeito de álcool ou drogas. Para o pensador grego, a vida boa é aquela que consiste na prática de bons hábitos consistentemente. Will Durant [2], autor americano, em jeito de resumo dos ensinamentos de Aristóteles, colocou,
Nós somos o que fazemos repetidamente. A excelência, então, não é uma ação, mas um hábito.
Will Durant
Para o filósofo grego, hábitos como a bondade e a disciplina são aqueles que fazem parte de alguém que vive a boa vida e são esses que devemos querer cultivar. Essa dita boa vida, deverá ser composta por hábitos de empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro. De respeito e humildade, ao assumir que aquilo que o outro tem a dizer pode ter valor, e aquilo que podemos assumir como verdade pode não estar inteiramente correto. No entanto, melhor do que tentar pôr em prática todas estas definições que proponho, seria tentar criar as suas. Como disse anteriormente, é essencial criticar tudo, até mesmo o que proponho como constituinte de uma boa vida. Segundo os seus próprios critérios em que consistiria essa vida para si? Que hábitos poderia mudar que o fariam vivê-la desta maneira?
Aquilo que encaramos como sendo a nossa personalidade, talvez seja apenas a composição de todos os pequenos hábitos que temos. Aquela pessoa que o leitor considera alegre pode ser vista como alguém que tem como hábito responder com positividade ao que a vida lhe apresenta. Dizer a verdade, será um hábito que também deve ser cultivado, ao fazer parte de uma vida com integridade.
3. Largar maus hábitos
Os maus hábitos são a outra face da moeda. Da mesma maneira que se compõe uma boa vida com bons hábitos, compõe-se uma vida menos dignificante com maus hábitos. Geneticamente falando, cada um tem a sua tendência em ganhar mais facilmente um hábito do que outros. No entanto, não é útil nem para si, nem para quem o rodeia, resignar-se ao que lhe calhou na lotaria genética e culpabilizá-la pelo seu destino. A estratégia de vitimização não o leva a lado nenhum e resulta geralmente num afastamento involuntário de quem lhe quer bem. Ninguém gosta de estar perto daquela pessoa que está constantemente a culpar o mundo, apontando o dedo a todos menos a ele ou ela própria.
Daqui, se já estiver a executar o ponto fundamental deste artigo – questionar o mais possível – irá aperceber-se onde estão estes maus hábitos enraizados. Da próxima vez que responder mal a alguém, talvez consiga entender se foi apenas uma instância dos seus maus hábitos ou se tinha mesmo razão em agir assim. Quando quiser mesmo devorar uma caixa inteira de pasteis de nata, pergunte-se, isto é recorrente ou é só desta vez? Porque é que o quero fazer? Isto vai resolver os meus problemas? Epicteto, filósofo grego, a propósito de maus hábitos, acrescentava ainda,
Quando um mau hábito surge, contrarie-o com um bom hábito que o anule, que afirme a virtude em contrário a ele.
4. Focar-se naquilo que controla
Existem muitas coisas sobre a qual não exercemos controlo. Não temos controlo sobre o tempo ou sobre o que os outros acham de nós, por exemplo. Não temos controlo sobre o meio em que nascemos, nem sobre que família nos calhou. Séneca e Marco Aurélio, conhecidos pela sua vertente estóica, várias vezes referem nos seus escritos que para uma vida bem vivida, deveríamos mudar a nossa atenção exclusivamente para coisas que podemos controlar. Tudo aquilo que está absolutamente dentro do nosso controlo resume-se apenas à nossa razão e às nossas capacidades de julgamento e decisão. Nós controlamos como podemos reagir, como pensamos, mas não controlamos como os outros reagem e pensam. Temos o dever de controlar como agimos perante as situações que a vida nos coloca e não deixar que a circunstância e as emoções se ponham no caminho de uma boa decisão.
Pontos a reter
- Retirar da filosofia a inspiração para levar uma vida melhor.
- Questionar e duvidar do que lhe é apresentado é o fundamento de viver uma boa vida.
- Focar-se em formar hábitos virtuosos como a empatia, honestidade, respeito.
- Criar a sua própria definição de bom hábito que levem a uma boa vida.
- A sua personalidade pode ser vista como a composição de diversos hábitos.
- Substituir maus hábitos por hábitos que o dignifiquem e tornem a vida dos que estão à sua volta, melhor.
- Agir em vez de reagir.
Atentamente,
André
Referências:
[1] – https://pt.wikipedia.org/wiki/Eudaimonia
[2] – Will Durant in The Story of Philosophy: The Lives and Opinions of the World’s Greatest Philosophers
Revisto por: Martim
Foto destaque: Photo by Giammarco Boscaro on Unsplash
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