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Educação: Como Preparar a Sua.

Tal como o atleta que se prepara para os jogos olímpicos, a preparação do leitor tem de começar bem antes do verdadeiro desafio. Esta não se inicia somente nos quatro anos que antecedem a olimpíada. Ela é executada durante anos a fio, incansavelmente, com uma tremenda consistência. É uma postura semelhante, de consistência e trabalho árduo, que o fará cumprir os objectivos que definir para si próprio. Esses objectivos que quer alcançar precisam de uma boa preparação, e isso começa com o preparar a sua educação, ou se for o caso, dos seus filhos e filhas. Estas são algumas das ideias presentes nos nossos cursos e programas de introdução ao pensamento crítico e ao pensamento matemático. Além do acompanhamento escolar, transmitimos sempre esta visão de uma educação que realmente prepara as pessoas para o mundo real, com toda a sua complexidade e não apenas para o imediato, para o simples teste.

É certo que é necessário trabalhar bastante para atingir qualquer objectivo suficientemente difícil que seja merecedor de ser atingido. No entanto, um bom planeamento da nossa vida e tempo contribuem para que nos tornemos mais eficientes nas nossas tarefas, transformando-nos em pessoas super-produtivas, tudo sem hipotecar a nossa vida social ou saúde. Muito pelo contrário, com a atitude e planeamento certos é possível ter mais energia, mais saúde e estar em boa forma física.

Como os programas que oferecemos são mais direccionados para jovens em fase escolar/universitária, irei utilizar recorrentemente este contexto. Deste modo, levo o leitor nessa fase a encarar a vida escolar não como algo extra que alguém lhe impõe, mas sim como uma jornada que o prepara para o mundo. O leitor fica também relembrado que praticamente todas as lições aqui expostas poderão ser utilizadas para diversas outras ocasiões na vida.

A escola e a educação

Photo by Feliphe Schiarolli on Unsplash

Não é fácil abstrair-nos das regras demasiado restritivas do sistema no qual somos submetidos. Com a agravante de que tudo isto é imposto sem o nosso consentimento explicito. No entanto, aproveite ao máximo todas as coisas que este mesmo assim tem para lhe dar. No final de contas, o que proponho é olhar de um modo ligeiramente diferente para todo o seu percurso escolar. A perspectiva que nos “vendem” é a de ir para a escola porque precisamos de ter um emprego que nos permita (sobre)viver. Esta é uma perspectiva demasiado limitadora e é a que menos gosto, sobre qual a utilidade da escola e o privilégio que é poder ter acesso a uma educação – que a muitos lhes é privada ou muito limitada.

Idealmente, a escola seria o local onde várias pessoas se juntariam para aprenderem sobre algo que lhes interessasse e quisessem saber. Só que isso muito raramente acontece e quando “escolhe” é de um leque algo restrito e pré-determinado de opções. Durante o seu percurso escolar, quantas vezes escolheu o que queria realmente aprender? Quando é que decidiu que queria aprender a ler? Quando é que decidiu que queria aprender a contar, a somar? Qual a motivação de uma criança para aprender a ler e escrever quando o que lhe apetece mesmo é jogar à bola ou à apanhada?

Uma educação desenhada à medida de cada um – que no fundo acaba por ser da sua responsabilidade – ajudar-lhe-ia a construir o seu percurso de vida e a definir-se enquanto pessoa, trazendo o melhor de si à superfície. É responsabilidade do aluno, enquanto individuo independente, fazer uso daquilo que aprende, do que lhe suscita curiosidade e construir o seu próprio modelo do mundo. Se o aluno apenas prosseguir a típica via do estudar para os testes, olvidando grande parte do que “aprendeu” nos dias seguintes, garanto-lhe que está a subaproveitar a oportunidade que dispõe. O pretexto é o de que não há tempo para aprender de uma forma duradoura.  O modo como as aulas e a avaliação está estruturada favorece apenas quem tem melhores notas nos testes, independentemente da sua verdadeira aprendizagem.

A tendência é a de que a aprendizagem mais activa – explicar aos outros o que se aprendeu, escrever sobre o assunto – é muito mais eficaz do que uma perspectiva mais passiva – ouvir palestras ou ler simplesmente sobre o assunto [1]. Os benefícios da aprendizagem espaçada temporalmente são também evidentes. Desde há algum tempo que se sabe que aprender um pouco todos os dias é muito mais eficaz na retenção de conceitos a longo-prazo [2]. Todas estas técnicas e todo este conhecimento é sabido e já foi por diversas vezes corroborado. Poderíamos ver estas técnicas surgirem no ensino público, a diversos níveis, caso os professores tivessem talvez flexibilidade suficiente. Como tal não é para já possível, o ideal é ser o próprio leitor a usar os métodos que considera mais eficientes para seu próprio beneficio.


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No entanto, peço ao leitor que se afaste um pouco e crie, mesmo assim, uma perspectiva de um propósito maior em toda a educação que recebe, com todos os seus defeitos. Durante o percurso escolar, se o aluno estiver suficientemente atento aos professores que vai tendo pelo caminho, verá que existe sempre um ou outro que está disposto a ensinar-lhe coisas que vão além daquilo que são os conteúdos habituais.

Durante o meu percurso académico fiz algumas amizades com os professores que tive. Apesar de ter terminado o secundário há vários anos, o contacto com o meu professor de Matemática persiste até aos dias de hoje. Ele foi, e continua a ser, uma grande influência na maneira como penso e na maneira como abordo os problemas na vida. Talvez sem ele nunca tivesse alimentado e feito crescer devidamente o grande gosto de saber e aprender que tenho hoje. Continuo também a fazer visitas aos meus antigos professores e orientador de mestrado na minha faculdade. Estas relações, aparentemente improváveis, são do mais frutuosas que podem existir. Ambas as partes ficam a ganhar. O aluno só tem a ganhar do contínuo contacto com alguém com mais experiência e com muita coisa para lhe ensinar. O professor, por sua vez, ganha uma visão fresca do mundo actual, do mundo visto pela óptica de um jovem. Debatem-se ideias, trocam-se impressões sobre o estado do mundo, aprende-se mais um pouco.

Coloque hipóteses sobre o que está a ouvir ou a ler. Deixe a sua mente explorar cenários a partir daquilo que leu. Por mais estranhas que possam parecer à primeira vista, coloque questões e promova o debate de ideias. Se fizer isto ainda num contexto escolar, um professor empenhado na sua missão ficará sempre entusiasmado quando os próprios alunos se entusiasmam com o que está a ser falado e fará os possíveis para alimentar isso. Se estiver sozinho, a ler um livro à lareira, faça o mesmo, lance umas hipóteses e umas ideias nem que seja ao seu gato.

Atentamente,
André.

Referências:
[1] Prince, M. (2004). Does active learning work? A review of the research. Journal of engineering education, 93(3), 223-231.
[2] Cepeda, N. J., Vul, E., Rohrer, D., Wixted, J. T., & Pashler, H. (2008). Spacing Effects in Learning: A Temporal Ridgeline of Optimal Retention. Psychological Science, 19(11), 1095–1102. https://doi.org/10.1111/j.1467-9280.2008.02209.x

Revisto por: Martim
Foto destaque: Photo by Aaron Burden on Unsplash